quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O papel de Maria na Igreja



Deus quis que recebêssemos tudo por Maria, diz São Bernardo. De fato, por Ela nos veio o Salvador e tudo o mais. Sem dúvida o papel preponderante de Maria na vida da Igreja é o de Mãe. A Igreja, como o Cristo, nasce no seu regaço: “Todos unidos pelo mesmo sentimento, entregavam-se assiduamente à oração, em companhia de algumas mulheres, entre as quais Maria, a Mãe de Jesus e de Seus irmãos”(At 1,14).

Neste quadro de Pentecostes São Lucas destaca a pessoa de Maria, a única que é recordada com o próprio nome, além dos apóstolos. Ela promove na Igreja nascente, a perseverança na oração e a concórdia no amor. É o papel de mulher e de Mãe. São Lucas também faz questão de apresentar explicitamente Maria como “a mãe de Jesus” (At. 1,14), como que a dizer que algo da presença do Filho, que subiu ao céu, permanece na presença da Mãe. 
Diz o nosso Papa: “Ela recorda aos discípulos o rosto de Jesus e é, com a sua presença no meio da Comunidade, o sinal da fidelidade da Igreja a Cristo Senhor.” (58 Catequeses do Papa, Ed. Cléofas)
Ela que cuidou de Jesus, passa agora a cuidar da Igreja, o Corpo Místico do Seu Filho. Desde o começo Maria exerce o seu papel de “Mãe da Igreja”. Com essas palavras pronunciadas na Cruz: “Mulher, eis aí o teu filho” (Jo 19, 26), Jesus lhe dá função de Mãe universal dos crentes. Disse o Concílio Vaticano II que Maria é “para nós mãe na ordem da graça” (cf. LG 21), e destaca que a sua maternidade espiritual não se limita só aos discípulos, mas a toda a Igreja. Entregando-a ao discípulo amado como mãe, Jesus quis também indicar-nos o exemplo de vida cristã a imitar. Se Cristo no-la deu aos pés da Cruz, é porque precisamos dela para a nossa salvação. Não foi à toa que Cristo nos deu a sua Mãe…
Esta missão materna e universal de Maria aparece na sua preocupação para com todos os cristãos, de todos os tempos. Sem cessar ela socorre a Igreja e os seus filhos.
Durante a sua vida terrena, foi breve o tempo para ela mostrar a sua maternidade. Mas, esta brilhou na Igreja com todo o seu valor depois da Assunção, e será exercida até o fim do mundo. O Concílio afirmou expressamente:
Esta maternidade de Maria na economia da graça perdura sem interrupção, desde o consentimento, que fielmente deu na Anunciação e que manteve inabalável junto à cruz, até à consumação eterna de todos os eleitos” (LG, 62).
Sobre isto disse o Papa João Paulo II: “Tendo entrado no reino eterno do Pai, mais próxima do divino Filho e, portanto, de todos nós, Ela pode exercer no Espírito de maneira mais eficaz, a função de intercessão materna que lhe foi confiada pela Providência divina. Próxima de Cristo e em comunhão com Ele, (…) o Pai celeste quis à intercessão sacerdotal do Redentor unir a intercessão materna da Virgem. Trata-se de uma função que Ela exerce em benefício daqueles que estão em perigo e têm necessidade de favores temporais e, sobretudo, da salvação eterna.” (idem)
E o Concílio reafirmou isto dizendo que Maria “Cuida, com amor materno dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada. Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, medianeira”(LG, 62).
Estes títulos da fé do povo cristão, nos ajudam a compreender melhor a intervenção da Mãe do Senhor na vida da Igreja e de cada um de nós. Foi Santo Irineu que lhe deu pela primeira vez o título de “Advogada” . Ao falar da desobediência de Eva e da obediência de Maria, ele afirma que no momento da Anunciação “a Virgem Maria se tornou a Advogada” de Eva (Haer, 5,19, 1; PG 7, 1175 – 1176).
Os cristãos invocam Maria como “Auxiliadora”, reconhecendo-lhe o amor materno que socorre os seus filhos, sobretudo quando está em jogo a salvação eterna. A convicção de que Maria está próxima dos que sofrem ou se encontram em perigo, levou os fiéis a invocá-la como “Socorro”. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro!
A mesma confiante certeza é expressa pela mais antiga oração mariana, do século II, na época das perseguições romanas, com as palavras: “sob a vossa proteção recorremos a vós, Santa Mãe de Deus: não desprezeis as súplicas de nós que estamos na prova, e livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita!” (Do Breviário Romano).
Garante-nos o Papa que “como Medianeira materna, Maria apresenta a Cristo os nossos desejos, as nossas súplicas e transmite-nos os dons divinos, intercedendo continuamente em nosso favor.” (ibidem)
Sobre a Sua mediação materna o Concílio tirou qualquer dúvida: Maria, “com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna” (LG, 62). Na Encíclica Redemptoris mater, o Papa recorda que “a mediação de Maria está intimamente ligada à sua maternidade e possui um caráter especificamente maternal, que a distingue da mediação das outras criaturas. Deste ponto de vista, Ela é única no seu gênero e singularmente eficaz.” (n.38) O título “Mãe na ordem da graça” esclarece que a Virgem coopera com Cristo no renascimento espiritual da humanidade. E este é o grande papel de Maria hoje na vida da Igreja.
É sempre bom recordar que a mediação materna de Maria não é contraditória com a única e perfeita mediação de Cristo. O Concílio, depois de ter mencionado Maria “Medianeira”, esclareceu: “Mas isto entende-se de maneira que nada tire nem acrescente à dignidade e eficácia do único Mediador, que é Cristo” (LG, 62). “A função maternal de Maria em relação aos homens de modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo; antes, manifesta a sua eficácia” (LG, 60).
Diz ainda o Concílio: “Com efeito, todo o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens se deve ao beneplácito divino e não a qualquer necessidade; deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na Sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia” (LG, 60).
Isto quer dizer que a mediação da Mãe da Igreja por seus filhos não é uma mediação “paralela”, nem autônoma, mas subordinada à de Cristo. Diz o Concílio: “De modo nenhum impede a união imediata dos fiéis com Cristo, antes a favorece” (ibid.). A mediação materna de Maria é um grande dom do Pai à humanidade. Por isso o Concílio conclui dizendo: “Esta função subordinada de Maria, não hesita a Igreja em proclamá-la; sente-a constantemente e inculca-a nos fiéis…” (ibid.).
Na sua peregrinação terrena, a Igreja experimenta continuamente a eficácia da ação da “Mãe na ordem da graça”. Ela tem um lugar especial no coração de cada filho. Não é um sentimento superficial, mas afetivo, real, consciente, vivo, arraigado, e que impele os cristãos de ontem e de hoje a recorrerem sempre a Maria, para entrarem em comunhão mais íntima com Cristo.
Depois da mais antiga oração, formulada no Egito pelas comunidades cristãs do século II para implorar à “Mãe de Deus” proteção no perigo, multiplicaram-se outras invocações. Ensina o nosso Papa que: “Hoje, a oração mais comum é a Ave Maria, cuja primeira parte é composta de palavras tiradas do Evangelho (cf. Lc. 1,28.42). Os cristãos aprendem a rezá-la entre as paredes domésticas, desde os mais tenros anos, recebendo-a como um dom precioso que deve ser conservado durante toda a vida. Esta mesma oração, repetida dezenas de vezes no Rosário, ajuda muitos fiéis a entrar na contemplação orante dos mistérios evangélicos e a permanecer às vezes, durante muito tempo, em contato íntimo com a Mãe de Jesus. Desde a Idade Média, a Ave Maria é a oração mais comum de todos os crentes, que pedem a Santa Mãe do Senhor que os acompanhe e proteja no caminho da existência quotidiana”. (cf. Exort. Apost. Marialis cultus, 42-55).
Além disso, manifestando o seu amor a Maria, o povo multiplica as expressões da sua devoção: hinos, orações, composições poéticas, quadros, imagens, basílicas, etc. A piedade mariana fez surgir uma riquíssima produção artística no mundo todo: pintores, escultores, músicos e poetas deixaram obras-primas que mostram a grandeza da Virgem e nos ajudam a compreender melhor o sentido e valor da sua contribuição na obra da redenção. Maria une não só os cristãos atuantes, mas também o povo simples e até os que estão afastados. Para esses, muitas vezes Maria é o único vínculo com a vida da Igreja.
Maria nos educa a viver na fé em todas as situações da vida, com audácia e perseverança constante. A sua presença na Igreja ensina os cristãos a porem-se cada dia à escuta da Palavra do Senhor. O exemplo de Maria faz com que a Igreja aprenda o valor do silêncio. O silêncio de Maria é sobretudo sabedoria e acolhimento da Palavra. Maria ensina à Igreja o valor de uma existência humilde e escondida em Nazaré. A Igreja aprenda a imitá-la no seu caminho quotidiano. E assim, unida com a Mãe, conforma-se cada vez mais com seu Esposo.
A Igreja vive de fé, e aprendeu esta fé “naquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor” (Lc 1, 45). Maria é para a Igreja também modelo de esperança. Ao escutar a mensagem do anjo, a Virgem é a primeira a acreditar no Reino que o seu Filho veio implantar na terra. E ela permanece firme nesta esperança junto da cruz do Filho, à espera da realização da promessa divina. Ela é, pois, para a Igreja a Mãe da esperança, que encoraja e guia os seus filhos na expectativa do Reino, mesmo entre as horas trágicas de nossa vida e da história.
Em Maria, a Igreja tem o modelo da sua caridade. Graças à caridade de Maria foi possível conservar em todos os tempos no interior da Igreja a concórdia e o amor fraterno.
E também na sua missão apostólica, a Igreja olha para Maria, como ensinou o Concílio:
Na sua ação apostólica, a Igreja olha com razão para aquela que gerou a Cristo, o qual foi concebido por ação do Espírito Santo e nasceu da Virgem precisamente para nascer e crescer também no coração dos fiéis, por meio da Igreja. E, na sua vida, deu a Virgem exemplo daquele afeto maternal de que devem estar animados todos quantos cooperam na missão apostólica que a Igreja tem de regenerar os homens” (LG, 65).
Prof. Felipe Aquino

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