Deus
quis que recebêssemos tudo por Maria, diz São Bernardo.
De
fato, por Ela nos veio o Salvador e tudo o mais. Sem dúvida o papel
preponderante de Maria na vida da Igreja é o de Mãe. A Igreja, como
o Cristo, nasce no seu regaço: “Todos unidos pelo mesmo
sentimento, entregavam-se assiduamente à oração, em companhia de
algumas mulheres, entre as quais Maria, a Mãe de Jesus e de Seus
irmãos”(At 1,14).
Neste
quadro de Pentecostes São Lucas destaca a pessoa de Maria, a única
que é recordada com o próprio nome, além dos apóstolos. Ela
promove na Igreja nascente, a perseverança na oração e a concórdia
no amor. É o papel de mulher e de Mãe. São Lucas também faz
questão de apresentar explicitamente Maria como “a mãe de Jesus”
(At. 1,14), como que a dizer que algo da presença do Filho, que
subiu ao céu, permanece na presença da Mãe.
Diz
o nosso Papa: “Ela recorda aos discípulos o rosto de Jesus e é,
com a sua presença no meio da Comunidade, o sinal da fidelidade da
Igreja a Cristo Senhor.” (58 Catequeses do Papa, Ed. Cléofas)
Ela
que cuidou de Jesus, passa agora a cuidar da Igreja, o Corpo Místico
do Seu Filho. Desde o começo Maria exerce o seu papel de “Mãe da
Igreja”. Com essas palavras pronunciadas na Cruz: “Mulher, eis aí
o teu filho” (Jo 19, 26), Jesus lhe dá função de Mãe universal
dos crentes. Disse o Concílio Vaticano II que Maria é “para nós
mãe na ordem da graça” (cf. LG 21), e destaca que a sua
maternidade espiritual não se limita só aos discípulos, mas a toda
a Igreja. Entregando-a ao discípulo amado como mãe, Jesus quis
também indicar-nos o exemplo de vida cristã a imitar. Se Cristo
no-la deu aos pés da Cruz, é porque precisamos dela para a nossa
salvação. Não foi à toa que Cristo nos deu a sua Mãe…
Esta
missão materna e universal de Maria aparece na sua preocupação
para com todos os cristãos, de todos os tempos. Sem cessar ela
socorre a Igreja e os seus filhos.
Durante
a sua vida terrena, foi breve o tempo para ela mostrar a sua
maternidade. Mas, esta brilhou na Igreja com todo o seu valor depois
da Assunção, e será exercida até o fim do mundo. O Concílio
afirmou expressamente:
“Esta
maternidade de Maria na economia da graça perdura sem interrupção,
desde o consentimento, que fielmente deu na Anunciação e que
manteve inabalável junto à cruz, até à consumação eterna de
todos os eleitos” (LG, 62).
Sobre
isto disse o Papa João Paulo II: “Tendo entrado no reino eterno do
Pai, mais próxima do divino Filho e, portanto, de todos nós, Ela
pode exercer no Espírito de maneira mais eficaz, a função de
intercessão materna que lhe foi confiada pela Providência divina.
Próxima de Cristo e em comunhão com Ele, (…) o Pai celeste quis à
intercessão sacerdotal do Redentor unir a intercessão materna da
Virgem. Trata-se de uma função que Ela exerce em benefício
daqueles que estão em perigo e têm necessidade de favores temporais
e, sobretudo, da salvação eterna.” (idem)
E
o Concílio reafirmou isto dizendo que Maria “Cuida, com amor
materno dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias,
caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada. Por
isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada,
auxiliadora, socorro, medianeira”(LG, 62).
Estes
títulos da fé do povo cristão, nos ajudam a compreender melhor a
intervenção da Mãe do Senhor na vida da Igreja e de cada um de
nós. Foi Santo Irineu que lhe deu pela primeira vez o título de
“Advogada” . Ao falar da desobediência de Eva e da obediência
de Maria, ele afirma que no momento da Anunciação “a Virgem Maria
se tornou a Advogada” de Eva (Haer, 5,19, 1; PG 7, 1175 – 1176).
Os
cristãos invocam Maria como “Auxiliadora”, reconhecendo-lhe o
amor materno que socorre os seus filhos, sobretudo quando está em
jogo a salvação eterna. A convicção de que Maria está próxima
dos que sofrem ou se encontram em perigo, levou os fiéis a
invocá-la como “Socorro”. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro!
A
mesma confiante certeza é expressa pela mais antiga oração
mariana, do século II, na época das perseguições romanas, com as
palavras: “sob a vossa proteção recorremos a vós, Santa Mãe de
Deus: não desprezeis as súplicas de nós que estamos na prova, e
livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita!”
(Do Breviário Romano).
Garante-nos
o Papa que “como Medianeira materna, Maria apresenta a Cristo os
nossos desejos, as nossas súplicas e transmite-nos os dons divinos,
intercedendo continuamente em nosso favor.” (ibidem)
Sobre
a Sua mediação materna o Concílio tirou qualquer dúvida: Maria,
“com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os
dons da salvação eterna” (LG, 62). Na Encíclica Redemptoris
mater, o Papa recorda que “a mediação de Maria está intimamente
ligada à sua maternidade e possui um caráter especificamente
maternal, que a distingue da mediação das outras criaturas. Deste
ponto de vista, Ela é única no seu gênero e singularmente eficaz.”
(n.38) O título “Mãe na ordem da graça” esclarece que a Virgem
coopera com Cristo no renascimento espiritual da humanidade. E este é
o grande papel de Maria hoje na vida da Igreja.
É
sempre bom recordar que a mediação materna de Maria não é
contraditória com a única e perfeita mediação de Cristo. O
Concílio, depois de ter mencionado Maria “Medianeira”,
esclareceu: “Mas isto entende-se de maneira que nada tire nem
acrescente à dignidade e eficácia do único Mediador, que é
Cristo” (LG, 62). “A função maternal de Maria em relação aos
homens de modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de
Cristo; antes, manifesta a sua eficácia” (LG, 60).
Diz
ainda o Concílio: “Com efeito, todo o influxo salvador da Virgem
Santíssima sobre os homens se deve ao beneplácito divino e não a
qualquer necessidade; deriva da abundância dos méritos de Cristo,
funda-se na Sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí
toda a sua eficácia” (LG, 60).
Isto
quer dizer que a mediação da Mãe da Igreja por seus filhos não é
uma mediação “paralela”, nem autônoma, mas subordinada à de
Cristo. Diz o Concílio: “De modo nenhum impede a união imediata
dos fiéis com Cristo, antes a favorece” (ibid.). A mediação
materna de Maria é um grande dom do Pai à humanidade. Por isso o
Concílio conclui dizendo: “Esta função subordinada de Maria, não
hesita a Igreja em proclamá-la; sente-a constantemente e inculca-a
nos fiéis…” (ibid.).
Na
sua peregrinação terrena, a Igreja experimenta continuamente a
eficácia da ação da “Mãe na ordem da graça”. Ela tem um
lugar especial no coração de cada filho. Não é um sentimento
superficial, mas afetivo, real, consciente, vivo, arraigado, e que
impele os cristãos de ontem e de hoje a recorrerem sempre a Maria,
para entrarem em comunhão mais íntima com Cristo.
Depois
da mais antiga oração, formulada no Egito pelas comunidades cristãs
do século II para implorar à “Mãe de Deus” proteção no
perigo, multiplicaram-se outras invocações. Ensina o nosso Papa
que: “Hoje, a oração mais comum é a Ave Maria, cuja primeira
parte é composta de palavras tiradas do Evangelho (cf. Lc. 1,28.42).
Os cristãos aprendem a rezá-la entre as paredes domésticas, desde
os mais tenros anos, recebendo-a como um dom precioso que deve ser
conservado durante toda a vida. Esta mesma oração, repetida dezenas
de vezes no Rosário, ajuda muitos fiéis a entrar na contemplação
orante dos mistérios evangélicos e a permanecer às vezes, durante
muito tempo, em contato íntimo com a Mãe de Jesus. Desde a Idade
Média, a Ave Maria é a oração mais comum de todos os crentes, que
pedem a Santa Mãe do Senhor que os acompanhe e proteja no caminho da
existência quotidiana”. (cf. Exort. Apost. Marialis cultus,
42-55).
Além
disso, manifestando o seu amor a Maria, o povo multiplica as
expressões da sua devoção: hinos, orações, composições
poéticas, quadros, imagens, basílicas, etc. A piedade mariana fez
surgir uma riquíssima produção artística no mundo todo: pintores,
escultores, músicos e poetas deixaram obras-primas que mostram a
grandeza da Virgem e nos ajudam a compreender melhor o sentido e
valor da sua contribuição na obra da redenção. Maria une não só
os cristãos atuantes, mas também o povo simples e até os que estão
afastados. Para esses, muitas vezes Maria é o único vínculo com a
vida da Igreja.
Maria
nos educa a viver na fé em todas as situações da vida, com
audácia e perseverança constante. A sua presença na Igreja ensina
os cristãos a porem-se cada dia à escuta da Palavra do Senhor. O
exemplo de Maria faz com que a Igreja aprenda o valor do silêncio. O
silêncio de Maria é sobretudo sabedoria e acolhimento da Palavra.
Maria ensina à Igreja o valor de uma existência humilde e escondida
em Nazaré. A Igreja aprenda a imitá-la no seu caminho quotidiano. E
assim, unida com a Mãe, conforma-se cada vez mais com seu Esposo.
A
Igreja vive de fé, e aprendeu esta fé “naquela que acreditou que
teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor”
(Lc 1, 45). Maria é para a Igreja também modelo de esperança. Ao
escutar a mensagem do anjo, a Virgem é a primeira a acreditar no
Reino que o seu Filho veio implantar na terra. E ela permanece firme
nesta esperança junto da cruz do Filho, à espera da realização da
promessa divina. Ela é, pois, para a Igreja a Mãe da esperança,
que encoraja e guia os seus filhos na expectativa do Reino, mesmo
entre as horas trágicas de nossa vida e da história.
Em
Maria, a Igreja tem o modelo da sua caridade. Graças à caridade de
Maria foi possível conservar em todos os tempos no interior da
Igreja a concórdia e o amor fraterno.
E
também na sua missão apostólica, a Igreja olha para Maria, como
ensinou o Concílio:
“Na
sua ação apostólica, a Igreja olha com razão para aquela que
gerou a Cristo, o qual foi concebido por ação do Espírito Santo e
nasceu da Virgem precisamente para nascer e crescer também no
coração dos fiéis, por meio da Igreja. E, na sua vida, deu a
Virgem exemplo daquele afeto maternal de que devem estar animados
todos quantos cooperam na missão apostólica que a Igreja tem de
regenerar os homens” (LG, 65).
Prof.
Felipe Aquino
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