Festa litúrgica, 22 de fevereiro
Sentado em uma simples cadeira de carvalho, São Pedro presidia as reuniões da primitiva Igreja. Ao longo dos séculos, essa preciosa relíquia foi crescendo em valor e significado.
Nenhum transeunte parecia dar
qualquer atenção àquele judeu de aspecto grave que subia com passo firme uma
rua do Monte Aventino, em Roma, no ano 54 da Era Cristã.
Entretanto,
poucos séculos depois, de todas as partes do mundo acorreriam a essa cidade
imperadores, reis, príncipes, potentados e, sobretudo, multidões incontáveis de
fiéis para oscular os pés de uma imagem de bronze desse varão até então
desconhecido e quase desprezado pela Roma pagã. Pois fora a ele que o próprio
Deus dissera: “Tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que
desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,19).
Sim, era o
Apóstolo Pedro que retornava à Capital do Império para ali estabelecer o
governo supremo da Santa Igreja.
“Saudai Prisca e Áquila”
“Saudai Prisca e Áquila”
Provavelmente
o acompanhavam alguns cristãos, entre os quais Áquila e sua esposa Prisca,
batizados por ele poucos anos antes. Na Epístola aos Romanos, São Paulo faz a
este casal a seguinte referência altamente elogiosa: “Saudai Prisca e Áquila,
meus cooperadores em Cristo Jesus; pela minha vida eles expuseram as suas
cabeças. E isso lhes agradeço, não só eu, mas também todas as igrejas dos
gentios. Saudai também a comunidade que se reúne em sua casa” (Rom 16,3-5).
Irrigada
pelo sangue dos primeiros mártires, a evangelização deitava fundas raízes nas
almas e se difundia rapidamente por todo o orbe. Mas não existiam ainda
edifícios sagrados para a celebração do culto divino, de modo que esta se fazia
em residências particulares.
Assim,
Áquila e Prisca tiveram o privilégio incomparável de acolher em seu lar a comunidade
cristã. Ali São Pedro pregava, instruía, celebrava a Eucaristia. Dessa modesta
casa governava ele a Igreja, por toda parte florescente, apesar dos obstáculos
levantados pelos inimigos da Luz.
Era uma cadeira simples, de carvalho
Tomada de
enlevo e veneração pelo Príncipe dos Apóstolos, Prisca reservou para uso
exclusivo dele a melhor cadeira da casa. Nela sentava-se o Santo para presidir
as reuniões da comunidade.
Após a
morte do Apóstolo, essa cadeira tornou-se objeto de especial veneração dos cristãos,
como preciosa evocação do seu ensinamento. Passaram logo a denominá-la de
“cátedra”, termo grego que designa a cadeira alta dos professores, símbolo do
magistério.
Era
primitivamente uma peça bem simples, de carvalho. No correr do tempo, algumas
partes deterioradas foram restauradas ou reforçadas com madeira de acácia. Por
fim, foi ornada com alto-relevos de marfim, representando diferentes temas
profanos.
Um altar-relicário
Há
testemunhos e documentos suficientes para acompanhar sua história desde fins do
século II até nossos dias.
Tertuliano e São Cipriano atestam que em seu tempo (fim do séc. II e início do séc. III) essa cátedra era conservada em Roma como símbolo da Primazia dos Bispos da urbe imperial.
Tertuliano e São Cipriano atestam que em seu tempo (fim do séc. II e início do séc. III) essa cátedra era conservada em Roma como símbolo da Primazia dos Bispos da urbe imperial.
Por volta
do século IV, colocada no batistério da Basílica de São Pedro, era exposta à
veneração dos fiéis nos dias 18 de janeiro e 22 de fevereiro. Durante toda a
Idade Média ela foi conservada na Basílica do Vaticano, sendo usada para a
entronização do Soberano Pontífice.
Em 1657 o
Papa Alexandre VII encomendou ao escultor e arquiteto Bernini um monumento para
exaltar tão preciosa relíquia. Empenhando todo o seu gênio, construiu ele o
magnífico Altar da Cátedra de São Pedro, considerado por muitos sua obra-prima.
Nesse
altar cheio de simbolismo, o mármore da Aquitânia e o jaspe da Sicília, sobre
os quais se apóia o monumento, representam a solidez e a nobreza dos
fundamentos da Igreja. As quatro gigantescas estátuas que sustentam a cátedra –
representando Santo Ambrósio, Santo Agostinho, Santo Atanásio e São João
Crisóstomo, Padres da Igreja Latina e da Grega – recordam a universalidade da
Igreja e a coerência entre o ensinamento dos teólogos e a doutrina dos
Apóstolos.No centro do altar foi colocada em 1666 a cátedra de bronze dourado
dentro da qual se encerra, como num relicário, a bimilenar cadeira de São
Pedro.
Símbolo da Infalibilidade papal
Nos
documentos eclesiásticos, a expressão Cátedra de Pedro tem o mesmo significado
de Trono de São Pedro, Sólio Pontifício, Sede Apostólica. Num sentido
figurativo, equiparase ela a Papado e até mesmo a Igreja Católica.
Afirmaram
os Padres do IV Concílio de Constantinopla (ano 859): “A Religião católica
sempre se conservou inviolável na Sé Apostólica (…) Nós esperamos conseguir
manter-nos unidos a esta Sé Apostólica sobre a qual repousa a verdadeira e
perfeita solidez da Religião cristã”.
Nessa
mesma época o Papa São Nicolau I pôde com inteira razão sustentar que “nos
concílios não se reconheceu como válido e com força de lei senão aquilo que foi
ratificado pela Sede de São Pedro, não tendo sido tomado em consideração aquilo
que ela recusou”.
Em uma de
suas cartas, São Bernardo usa a expressão “Santa Sé Apostólica” para se referir
à pessoa do Papa e afirma que a infalibilidade é privilégio “da Sé Apostólica”.
Após a
solene definição do dogma da Infalibilidade papal no Concílio Vaticano I, todos
os católicos, eclesiásticos ou leigos, são unânimes em proclamar que o Papa é e
sempre será isento de erro em matéria de fé e de moral, de acordo com as
palavras de Jesus ao Príncipe dos Apóstolos: “Eu roguei por ti a fim de que não
desfaleças; e tu, por tua vez, confirma teus irmãos” (Lc 22,32).
A Cátedra
de Pedro é, o mais eloqüente símbolo dessa Infalibilidade, do Papado, da pessoa
do Papa e da própria Santa Igreja de Cristo. Mais ainda, pois na Exortação
Apostólica Pastores Gregis, Sua Santidade João Paulo II afirma que nela se
encontra “o princípio perpétuo e visível, bem como o fundamento da unidade da
fé e da comunhão”.
Por este
motivo, para ela se volta nossa entusiástica admiração de modo especial no dia
de sua Festa litúrgica, 22 de fevereiro. (Victor Hugo Toniolo; Revista Arautos
do Evangelho, Fev/2005, n. 38, p. 32 e 33)
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